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%\title{Experiência 3: Máquinas Síncronas}
%author{Caio Rosa \\ João Antônio do Amarante \\ Rodrigo \\ Thuane}
%\date{\today}
\begin{document}
%\maketitle
\begin{titlepage}
\begin{center}
\huge{Pontifícia Universidade Católica de São Paulo}
\vspace{10pt}
\begin{figure}[!ht]
\centering
\includegraphics[width=3cm]{puc.png}
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\vspace{85pt}
\textbf{\Huge{John Maynard Keynes}}
\vspace{140pt}
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\begin{flushleft}
\begin{center}
\begin{tabbing}
Alunos\qquad\qquad\= Fabio Hideo Kunikawa\\
\\
Professor\> José Geraldo Portugal \\
\end{tabbing}
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\tableofcontents
\thispagestyle{empty}
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\pagenumbering{arabic}
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\section{Introdução}
O Presente trabalho baseia-se nos seguintes textos: Apresentação do Professor Adroaldo Moura da Silva para o volume “Keynes” na coleção “Os Economistas”, da Editora Abril, o livro: “Keynes”, de Robert Skidelsky, a introdução feita para o volume “Keynes” pelo Professor Tamás Szmrecsányi para coleção “Grandes Cientistas Sociais”, dirigida pelo Professor Florestan Fernandes.
Para efeito de organização, dividimos o mesmo em quatro eixos básicos seguidos de breve conclusão: (i) Condicionantes Históricas; (ii) Condicionantes Sociais; (iii) Condicionantes Intelectuais; (iv) Ideias e Ação.
\section{Condicionantes históricas}
\begin{flushright}
\begin{minipage}{0.7\textwidth}
\begin{quote}
\scriptsize Sustentarei que os postulados da teoria clássica somente são aplicáveis a um caso especial e não ao caso geral... Mais ainda: as características do caso especial suposto pela teoria clássica não são os da sociedade econômica em que realmente vivemos, donde resulta que seus ensinamentos enganam e são desastrosos se intentamos aplicá-los da experiência. (J. M. Keynes The General Theory: Employment, Interest and Money)
\end{quote}
\end{minipage}
\end{flushright}
A relação entre a teoria econômica clássica e a Teoria Geral de Keynes é segundo Dillard, “ a mesma que se observa entre o mercantilismo e as Riquezas das Nações de Adam Smith”. Do mesmo modo como seria impossível, ou ao menos muito difícil compreender Smith sem conhecer algo da teoria e prática mercantilista, é também difícil compreender a Keynes sem conhecer algo da teoria e prática clássicas. (Dillard, 1986, p.14).
O período que transcorre entre o ano de nascimento de Keynes, 1883, e o de seu falecimento, 1946, se caracterizaram por profundas transformações no sistema capitalista mundial.
Em sua juventude, a Grã-Bretanha era o centro de um grande núcleo industrial, tendo a libra como padrão de referência monetária mundial. No decorrer de sua vida, o economista foi testemunha do progressivo declínio da hegemonia econômica britânica. Keynes atuou, com certo protagonismo, em momentos cruciais da história do início do século XX, como na conferência de Paris, que selou o Tratado de Versalhes, duramente criticado por ele na obra: “As consequências Econômicas da Paz”.
Vivenciou os anos vinte e as severas consequências para as economias europeias do pós-guerra, sobretudo a crise alemã, o desemprego e as inflações em vários países do Velho Mundo, a Revolução Russa e seus impactos políticos. No quadro das sucessivas crises do período, Keynes pôde observar as dificuldades dos postulados da economia clássica para lidar com as vicissitudes estruturais e conjunturais, sobretudo após o grande “Crash” de 1929 e a prolongada depressão que a seguiu.
No cenário de profunda instabilidade provocado por todos esses fatores, o economista britânico observou atentamente as “soluções” autoritárias que surgiam no período. Nas palavras de Skidelsky:
\begin{quote}
“Naquele momento o problema era de controle, não de liberação. A civilização, reconhecia Keynes em 1938, ‘era uma crosta fina e precária’. Os poderosos assumiram o controle, determinados a impor suas versões de ordem sobre o caos reinante: Stalin nasceu em 1879, Mussolini em 1883, Hitler em 1889. O modernismo perdeu sua inocência à medida que a diversão cedia lugar ao terror. E Keynes começou a questionar a sua crença antiga. (...) Apesar de tudo, aquela animação eduardiana sobreviveu. A incerteza podia ser administrada não pela força bruta, mas pelo cérebro, pelo exercício da inteligência e, assim, gradualmente a harmonia poderia ser restaurada. Este foi seu credo essencial, sua mensagem para o nosso tempo, caso exista alguma”.
\end{quote}
Entretanto, é injustiça não citar que a revolução keynesiana foi resultado aepenas do trabalho isolado do genial Jonh Maynard Keynes. Sua inspiração básica, o papel da demanda agregada no sistema econômico tem origens longínquas mas bastante sólidas nos trabalhos de Malthus, Hobson Marx entre outros. Muito do que foi escrito por Keynes refletia ideias e criticas de alguns de seus discípulos como Joan Robinson e James Meade, entre outros. A interação de Keynes esse grupo de intelectuais, enquanto escrevia a Teoria Geral, foi essencial para que muitas das evidências argumentos fossem discutidos, corrigidos e até reescritos. Ainda houve outros economistas contemporâneos a Keynes, cujos princípios se aproximavam muito das publicadas na Teoria Geral, como era o caso de Kalecki na Polônia que tratou do tema da demanda efetiva independentemente de Keynes.
O tom polêmico e heterodoxo da Teoria Geral despertou entusiasmo num importante grupo de jovens economistas, por tratar de temas até então bastante complexos como recessão e desemprego por isso pouco estudado além obviamente de sua originalidade e crítica aos clássicos. Sua obra acrescentou muito no debate de novos e velhos problemas nos mais variados temas econômicos como Comércio Internacional e Desenvolvimento.
A influência keynesiana ganhou adeptos também do outro lado do Atlântico, nos anos 30, 40, 50 sua referência tornara-se comum nos escritos de alguns economistas norte-americanos, dentre eles Alvin Hansen, John K. Galbraith, e Paul Samuelson que define a obra de Keynes com as seguintes palavras:
\begin{quote}
“É um livro mal escrito e mal organizado... Não serve para uso em classe. É arrogante, mal-educado, polêmico, e não muito generoso nos agradecimentos. É cheio de falácias e confusões: desemprego involuntário, unidades de salário, equivalência da poupança e do investimento, caráter intertemporal do multiplicador, interações da eficiência marginal sobre a taxa de juros específicas, e muitos outros... depois de entendida a sua análise, se mostra óbvia e ao mesmo tempo nova. Em resumo, é um trabalho de gênio.”
\end{quote}
\section{Condicionantes Sociais}
Ao analisar as condicionantes sociais da formação do pensamento keynesiano, devemos ter em mente que tais condições estão profundamente imbricadas com as outras duas condicionantes (históricas e intelectuais), já que o seu contexto social de formação recebeu profundos influxos das mesmas. Segundo o Professor Tamás Szmrecsányi:
\begin{quote}
“A gênese e a evolução do pensamento de Keynes foram condicionadas, em primeiro lugar, pela situação socioeconômica e política do período e do país em que ele viveu (...)”.
\end{quote}
Adiante, prossegue o Professor Szmrecsányi:
\begin{quote}
“Costuma-se dizer que ‘o estilo é o homem’. Ora, o estilo inconfundível que permeia toda a obra de Keynes remete o leitor, quase que instantaneamente, de volta às origens familiares em Cambridge. Foi nesta velha cidade universitária que ele nasceu e se formou, num ambiente que nunca chegou a abandonar – mesmo residindo alhures, ou estando preocupado com problemas de natureza mais universal. Esse ambiente moldou a visão do mundo de Keynes, funcionando como um quadro de referência durante toda a sua vida e para a maioria, se não a totalidade, dos seus trabalhos”.
\end{quote}
Keynes estudou em Eton, célebre colégio da elite britânica. Conforme nos lembra o Professor Adroaldo Moura da Silva em sua apresentação do volume da coleção “Os Economistas” da Editora Abril dedicado ao economista:
\begin{quote}
“Keynes desde cedo desfrutou da melhor educação, formal e informal, que a Inglaterra vitoriana oferecia às suas mais ilustres famílias. Educou-se em Cambridge, cidade onde sua mãe, Florence, exerceu numerosos cargos públicos, inclusive o de Prefeita, e na Universidade, onde seu pai, John Neville, destacou-se como professor e administrador. Ao longo de sua educação, Keynes dedicou-se ao estudo da Matemática, Filosofia e Humanidades”.
\end{quote}
O economista descendia de uma família de pregadores, sobretudo pelo lado materno. O pai, também economista e autor de “O Escopo e o Método da Economia Política”, era um homem bem conceituado em Cambridge; seu livro, publicado em 1891 foi, durante muitos anos, utilizado como texto básico na área de Metodologia das Ciências Econômicas e, entre 1910 e 1925, exerceu um alto cargo administrativo na Universidade de Cambridge, período que coincide com o início da atividade docente do filho John Maynard.
Sendo filho de uma família acadêmica abastada, como nos lembram Skidelsky, Adroaldo Moura da Silva e Szmrecsányi, não faltaram elementos para a formação de um grande talento que almejasse de fato, como era o caso, uma carreira brilhante de intelectual, pensador e futuro homem bem sucedido nos negócios particulares e de Estado. Sobre a vida privada da família Keynes, Skidelsky nos diz:
\begin{quote}
“O ambiente familiar no nº 6 da Harvey Road [Residência da família] era elevado. O círculo dos Keynes incluía alguns dos mais destacados economistas e filósofos da época – Alfred Marshall, Herbert Foxwell, Henry Sidgwick, W. E. Johnston, James Ward. Quando rapaz, Maynard jogava golfe com Sidgwick e escreveu sobre ele com uma precisão cruel (a seu amigo Bernard Swithinbank, em 27 de março de 1906): ‘Ele nunca fez nada senão se perguntar se o cristianismo era verdade, provar que não o era e esperar que fosse’. Cambridge era menos mundana do que Oxford. Embora Maynard frequentasse a sociedade, seus padrões permaneceram não mundanos. Julgava sua própria vida, e a dos outros, por critérios intelectuais e estéticos. Impunha-se no mundo dos negócios por força de sua inteligência e imaginação, mas não era absorvido por ele”.
\end{quote}
Como se pode depreender da passagem, citada por Skidelsky, o jovem Keynes demonstrava, já desde muito cedo, uma grande aptidão de lidar com conceitos teóricos facilmente, captando o essencial que lhe fosse útil à prática.
\section{Condicionantes Intelectuais}
Como abordado no tópico precedente sobre as “Condicionantes Sociais” que, na verdade são também sócio-familiares, há que lembrar que o impacto das mesmas refletiu de maneira perene e indelével no caráter do economista britânico, mas não o impediu de absorver e assimilar novas perspectivas intelectuais e culturais; Keynes não foi apenas um grande economista, mas um intelectual brilhante em vários campos do saber e com um apetite gigantesco por novos conhecimentos e áreas de interesse variadas. Segundo Skidelsky:
\begin{quote}
[Keynes] “Nasceu vitoriano e sempre conservou traços dos valores vitorianos. (...) Acreditava no governo de uma benévola classe de letrados, ou seja, e uma aristocracia intelectual. Nessa noção há um misto de atributos sociais e intelectuais que reflete a ascensão vitoriana da própria família Keynes, graças à inteligência e senso comercial, ao círculo da classe dirigente. Ele era um patriota ‘racional’, embora seu patriotismo fosse isento de qualquer traço de xenofobia”.
\end{quote}
Um traço marcante da formação da sua personalidade intelectual foi o contato com as vanguardas intelectuais e artísticas do seu tempo, sobretudo na sociedade secreta dos “Apóstolos”, que congregava, entre seus membros, intelectuais do porte de Bertrand Russell, Lytton Strachey, Leonard Woolf, Clive Bell, além de outros. Também fez parte do famoso “Bloomsbury Group”, que reunia intelectuais destacados do período. Segundo o Prof Adroaldo:
\begin{quote}
“Intelectuais de sucesso tinham como marca de seu comportamento social a irreverência. Cultivavam o ideal libertário, a busca da ‘verdade’, lutavam pela ampliação do papel da mulher na sociedade, pela desinibição sexual e contestavam os valores morais herdados da sociedade vitoriana”.
\end{quote}
Essas características que acompanham a construção da formação intelectual de Keynes: a formação moral vitoriana de origem, o período eduardiano, que significou um certo rompimento com a rigidez do período precedente, e o caráter libertário das vanguardas intelectuais, das quais era membro ativo, certamente contribuíram para a composição de um caráter com forte senso de dever moral (vitoriano), abertura às novas ideias (eduardiano) e libertário (das vanguardas intelectuais dos anos pós Primeira Guerra Mundial). Diz Skidelsky:
\begin{quote}
“Keynes foi um produto das decadentes convenções vitorianas. Era isso que tornava a questão comportamental, social e pessoal, tão central para ele. Mas antes mesmo da Primeira Guerra Mundial essa própria decadência produziu nele e em seus contemporâneos uma grande onda de animação. Viam-se como a primeira geração livre da ‘embromação’ cristã, como criadores e beneficiários de um novo Iluminismo, que podiam viver seus ideais e máximas comportamentais segundo a mais pura luz da razão. Seus ideais eram estéticos e pessoais; a vida pública um tanto deprimente já que as grandes vitórias do progresso, ao que parecia, já haviam sido conquistadas. A experimentação estava na ordem do dia nas artes, na filosofia, na ciência e nos estilos de vida, e não na economia ou na política”.
\end{quote}
Entretanto Keynes foi, apesar de toda a sua formação eclética e apaixonada pelas artes e pela alta cultura, um economista e homem de Estado imbuído de um profundo senso do dever (traço herdado de sua formação vitoriana) e, por isso, dedicou-se a fundo às questões mais prementes no campo da economia e da política do período turbulento no qual transcorreu a maior parte da sua vida, assunto a ser abordado com mais detalhe e precisão no próximo tópico do trabalho.
\section{Ideias e Ação}
A primeira oportunidade realmente importante para Keynes destacar-se no campo político-econômico deu-se com a deflagração da Primeira Guerra Mundial. Nesta época ele contava 31 anos e a Guerra foi um ponto de mutação na sua vida e carreira. Ela mudou suas ambições, mas não seus valores essenciais. Seguindo a análise de Skidelsky:
\begin{quote}
“Depois de representar um papel importante para evitar o colapso do padrão-ouro durante a crise bancária de agosto de 1914, foi trabalhar no Tesouro em janeiro de 1915, lá permanecendo até demitir-se em junho de 1919. Em janeiro de 1917 tornou-se chefe de uma nova divisão ‘A’, dirigindo as finanças externas da Grã-Bretanha. Durante esse período ajudou a formar o sistema de compras dos aliados nos mercados externos , as quais eram em grande parte financiadas pela Grã-Bretanha. Ali revelou-se excelente funcionário do Tesouro, adaptando-se naturalmente a Whitehall (sede do governo britânico), sempre fértil ao aplicar princípios básicos a situações concretas, capaz de escrever com uma velocidade incrível memorandos breves e lúcidos, tão valiosos para ministros sobrecarregados. Whitehall também satisfazia aquela parte de sua natureza que ansiava pelo domínio sobre o mundo material. Ele gostava do trabalho e da companhia dos personagens importantes e poderosos, a qual lhe proporcionava sua posição de mandarim do Tesouro, brilhante, bem-apessoado, solteiro, bom jogador de bridge e conversador divertido".
\end{quote}
Durante o período de guerra uma questão incomodava Keynes sobremaneira – a crescente dependência da Grã-Bretanha em relação aos Estados Unidos pela via do endividamento. Tal política derivava do crescente esvaziamento dos recursos britânicos para abastecer seus aliados, em especial a Rússia. No livro de Skidelsky há um trecho de um memorando sob as iniciais de Reginald McKenna, ministro das finanças do Reino Unido, que são atribuídas a Keynes que relata bem o estado de espírito do economista:
\begin{quote}
“Se as coisas continuarem como atualmente (...) o Presidente da República Americana estará em condições (...) de nos ditar seus próprios termos”.
\end{quote}
São palavras premonitórias e sagazes de um observador arguto que observa o movimento da história, onde a hegemonia financeira começa a mudar velozmente de mãos, passando da Inglaterra para os Estados Unidos. Tal movimento se consuma em definitivo após a Segunda Grande Guerra. Para Skidelsky:
\begin{quote}
“A consciência do declínio da Grã Bretanha (e o da Europa) com relação aos Estados Unidos conferia uma nova urgência ao argumento por uma paz negociada; isso moldou grande parte do seu pensamento do pós-guerra. (...) No final de 1917 Keynes estava convicto, conforme disse à mãe, de que a continuação da guerra significaria ‘o desaparecimento da ordem social que conhecemos até hoje (...) O que me assusta é a perspectiva do empobrecimento geral. Dentro de mais um ano não teremos mais créditos a reivindicar do Novo Mundo e em contrapartida este país estará hipotecado à América’. Isso resume o estado de espírito que domina sua obra As consequências Econômicas da Paz (...)”.
\end{quote}
O objetivo principal de Keynes era cancelar as dívidas entre aliados, limitar os pagamentos alemães a uma quantia anual razoável em relação à Bélgica e França. O Cancelamento das dívidas entre aliados visava desamarrar as finanças americanas da Europa. Ele apoiava a limitação dessas dívidas apenas coo meio de restaurar a produção industrial europeia, financiar a importação de alimentos e estabilizar as moedas. Para ele, era inadmissível que empréstimos americanos tivessem a finalidade de pagar dívidas impagáveis. Continuando alinha de análise de Skidelsky, em suas próprias palavras:
\begin{quote}
“Keynes colocou a economia no mapa para o público bem informado, e ela está lá desde então. A ideia de que o capitalismo precisava ser administrado também começou a medrar. Keynes não saiu da guerra como socialista e muito menos como bolchevista. O socialismo, ele começava a dizer, era para mais tarde – depois de solucionado o problema econômico: uma ligação curiosa com o marxismo clássico. Continuou liberal até morrer. A tarefa que se impôs foi a de reconstruir a ordem social capitalista a partir de uma administração técnica aperfeiçoada”.
\end{quote}
No período entre guerras, Keynes reorganizou sua vida pessoal. Tendo granjeado fama e reconhecimento, era muito procurados por políticos, financistas, quadros da administração pública, etc. Desenvolveu atividades na área de investimentos, onde aumentou consideravelmente sua fortuna pessoal, atuou na área jornalística nas funções de proprietário de jornal, editor e redator de artigos políticos, econômicos e culturais. Manteve acesso direto a ministros, chanceleres e homens de Estado em geral que, cada vez mais, queriam ouvir seus conselhos e observações, chegando a influenciar a política na qualidade de Membro do Conselho Consultivo de Economia do Primeiro-Ministro britânico.
A vida do economista britânico nessa época estava ocupada com atividades que, de certa forma, o distraíam dos seus escritos, mas foi um período fértil para a aquisição de elementos e experiências, além de observar o movimento histórico do sistema capitalista. Mais uma vez, recorrendo ao seu maior biógrafo, Skidelsky, temos a chave para compreender como Keynes utilizou a tumultuosa quadra para consolidar a sua análise:
\begin{quote}
“A teoria econômica estava num estado de fluxo. Foram necessários ‘choques ‘ no sistema capitalista entre as duas guerras para que se cristalizasse sua crítica à compreensão antiquada do comportamento da economia”.
\end{quote}
Mais adiante, Skidelsky continua:
\begin{quote}
“ O incentivo para os esforços teóricos e práticos de Keynes no período entre guerras foi seu receio quanto ao futuro. O estado de espírito anterior à guerra, de liberdade sexual e cultural, possibilitado pela expectativa do progresso ‘automático’, cedera lugar a uma sensação de extraordinária precariedade da civilização capitalista. Isso foi reforçado pelas catástrofes dos anos entre guerras – em especial a Grande Depressão de 1929-33 e o triunfo de Hitler na Alemanha. A crença na estabilidade e capacidade de recuperação do sistema de mercado foi substituída pela opinião de que a era do laissez-faire do século XIX fora um episódio único na história econômica, derivado de conjunturas especiais que não mais existiam; que, a despeito do progresso técnico, a humanidade corria o risco de um retrocesso do patamar de prosperidade e civilização que alcançara na era vitoriana”.
\end{quote}
E finaliza:
\begin{quote}
“Em 1925, depois de uma visita à Rússia soviética, Keynes escreveu que ‘o capitalismo moderno é completamente descrente (...) Um desses tem de ser imensamente, e não apenas moderadamente, bem-sucedido, para sobreviver’. Era esta a base espiritual e psicológica do ‘tom’ Keynesiano”.
\end{quote}
Ao olhar para a situação britânica nos anos 20, Keynes percebeu as dificuldades para que a Libra voltasse aos padrões pré-guerra (que ele mesmo também desejava) porém, ao observar que o nível de desemprego permanecia estacionado em mais de 10{\%}, o alertou para a possibilidade de que os custos para o emprego provocados por uma deflação “selvagem” seriam mais que passageiros e a economia ficaria presa numa armadilha de baixo emprego. No seu “Tratado Sobre a Reforma Monetária” de 1923, ele tentou esboçar um regime monetário que permitisse um nível razoável da atividade econômica. O economista britânico rejeitava o padrão-ouro como regime adequado, já que para ele o padrão, a uma taxa oficial fixa, não assegurava um nível de preços doméstico estável porque o próprio valor do ouro estava sujeito à flutuações em termos do valor dos demais produtos, dependendo de sua escassez ou abundância. Keynes também temia que, dada à distribuição das reservas mundiais de ouro, a volta ao padrão significaria entregar o controle britânico sobre o seu nível de preço ao Conselho da Reserva Federal em Washington (Skidelsky).
O “Tratado Sobre a Reforma Monetária” identifica Keynes como o primeiro opositor do retorno da Libra Esterlina ao padrão. Quando o então Ministro das Finanças, Winston Churchill fez a Libra retornar ao padrão-ouro, Keynes atacou a ação com um panfleto ácido: “As Consequências Econômicas do Sr. Churchill”. Nele o economista afirmava que o intento do ministro só seria viável com uma redução de 10{\%} dos custos salariais britânicos, e que tal proeza se daria pela “intensificação ilimitada do desemprego”. Skidelsky lembra que:
\begin{quote}
“ Keynes foi o primeiro a compreender e declarar claramente que uma moeda apreciada seria uma moeda fraca e não forte”.
\end{quote}
Nesse período de debate econômico mais politizado, Keynes escreve um opúsculo que define a sua filosofia do Meio Termo: “O fim do Laissez-faire”, de 1926.
O “Tratado Sobre a Moeda”, de 1930, dando continuidade à linha de pensamento do “Tratado Sobre a Reforma Monetária”, aborda de forma mais detalhada e sistemática a questão de que uma economia baseada no padrão-ouro poderia, em condições específicas, cair numa armadilha de subemprego. O resultado seria um excesso de poupança com relação ao investimento, um nível declinante de preços e uma economia estagnada.
Na Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” de 1936, segundo Skidelsky, Keynes expõe claramente que não havia um mecanismo automático no moderno sistema econômico que conservasse a poupança planejada em equilíbrio com o investimento planejado.
O Livro modificou a visão que a maior parte dos economistas tinha sobre o funcionamento das economias. Trata-se de uma obra revolucionária, não só no campo econômico, mas também no âmbito da política. O seu efeito não foi imediato, mas, após a Segunda Guerra, os governos do ocidente em sua imensa maioria buscaram, com graus diferentes de ênfase, aplicar em suas políticas relativas ao nível de emprego a agenda keynesiana estabelecida na “Teoria Geral”.
A Magnus Opus do economista britânico é uma análise profunda da lógica do comportamento econômico em períodos de incerteza, juntamente com um modelo de determinação de renda no curto prazo; privilegiando a quantidade, e não o preço, como variável de ajuste. Seguindo mais uma vez as palavras eloquentes de Skidelsky:
\begin{quote}
“A primeira tentativa do próprio Keynes para aplicar A “Teoria Geral” ao planejamento surgiu em três artigos que escreveu para o The Times em janeiro de 1937, sobre ‘Como evitar uma baixa’ – avaliação notavelmente cautelosa da possibilidade de se reduzir o desemprego abaixo de sua taxa de 12{\%} na época, injetando na economia ‘maior demanda agregada’”.
\end{quote}
Com a publicação da “Teoria Geral” transformou-se na personalidade mais influente da política econômica da Grã-Bretanha. Além da força das suas idéias, os britânicos também contaram com os serviços ativos de Keynes em três importantes ocasiões:
\begin{enumerate}
\item No contexto da economia de guerra, durante a Segunda Guerra Mundial;
\item Na Conferência de Bretton Woods onde, embora suas ideias não tenham sido as que prevaleceram, teve destacada participação e influência na reorganização financeira do mundo pós-guerra.
\item{Na negociação do empréstimo americano, sendo sempre um bravo negociador em favor dos interesses da Grã-Bretanha.}
\end{enumerate}
Após uma vida profícua e riquíssima contribuição intelectual, Keynes faleceu em 21 de abril de 1946.
\section{Conclusão}
Avaliar a dimensão da contribuição de Keynes para a teoria econômica e para a política econômica do nosso tempo não é tarefa trivial. Basta lembrar que o famosos “Trinta Anos Gloriosos”, que vão do final da Segunda Guerra até meados da década de setenta, que significaram o maior período de progresso contínuo do capitalismo moderno, são conhecidos como a era do “Consenso Keynesiano”.
Mesmo após a “morte” do pensamento Keynesiano, com a emergência do consenso neo-conservador em meados dos setenta, sempre que a economia sinaliza dificuldades, recessões mais prolongadas, ou mesmo uma grave crise como a de 2008, as ideias do economista insistem em ressoar nas cabeças dos estadistas e dos “imunes” homens práticos.
Embora muitas de suas ideias tenham sido contestadas posteriormente, a maioria delas aparecendo como crítica ao problema da inflação, a obra de Keynes revolucionou a profissão do economista. O propósito final de sua teoria é explicar o que realmente determina o volume de emprego, ou de maneira complementar, o que origina o desemprego.
Para mitigar a insuficiência de investimentos em períodos de recessões profundas, Keynes advoga a direção estatal do Investimento. A fim de compensar as inevitáveis flutuações do investimento privado, por meio de políticas antí-ciclícas. Em última análise, uma taxa de juros baixa e uma alta eficiência do capital seriam as condições favoráveis para o investimento e portanto, para o emprego.
A teoria realista formulada por Keynes é condicionada pelo sentido dos valores do teórico e suas ideias quanto ao que se deseja uma política exequível. Segundo Dudley Dillard.”o caráter realista da teoria de Keynes pode ser atribuído em grande parte a seu interesse vital por um tipo específico de programa econômico.” Por fim, uma frase de Keynes, embora dita no início do século passado, continua bastante atual, assim como sua teoria e deveria ser um ponto de reflexão para alguns economistas:
\begin{quote}
“As ideias de economistas e filósofos políticos ambos, quando estão certos ou errados são mais poderosas do que comumente entendido. De fato, o mundo por um pouco mais. Homens práticos, que acreditam ser isentos de qualquer influência intelectual são geralmente escravos de algum economista morto.” (John Maynard Keynes – A Teoria Geral do emprego, juro e moeda).
\end{quote}
\section{Referências}
[1] DILLARD, Dudley. A Teoria Econômica de John Maynard Keynes.4. ed. São Paulo: Livraria Pioneira, 1982. \\
[2] KEYNES, John Maynard. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda.São Paulo: Abril Cultural, 1983. 287 p. (Os economistas). Tradução de: Mário R. da Cruz. \\
[3] SKIDELSKY, Robert. Keynes, Editora Jorge Zahar, São Paulo, 2009. \\
[4] SZMRECSÁNYI, Tamás.John Maynard Keynes: Grandes Cientistas Sociais.São Paulo: Ática, 1984. \\
\end{document}